quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

SECRET STORY

Histórico MSN
#01



ELE— Só uma frase, antes das férias: "Não partir das boas coisas velhas, mas das más coisas novas". EU— Tenho andado a falar muito por citações, ultimamente. Começo a achar que não tenho personalidade própria: é tudo roubado de outras pessoas... ELE— É como o António Pedro Vasconcelos. Está sempre a citar. E é muito culto, o que só piora. EU— Eu não sou muito culto. Sou é fundamentalista em relação ao pouco que sei. O que só piora. ELE— Ouvi dizer que se estivéssemos no século XV, serias inquisidor. EU— Como quase toda a gente é herege, tal é a razão pela qual quase ninguém gosta de mim. ELE— "Toda a gente" diz que és um tiranete. Mas eu desconfio sempre de "toda a gente". EU— Quem me dera ser um tiranete! Sou inofensivo, infelizmente... ELE— Ainda bem! EU— Tenho o problema de ser demasiado apaixonado pelas coisas em que acredito. Sou um grande cromo, é o que eu sou. Um totó das artes. Um crominho das performances. ELE— Eu gosto disso! E isso não é problema, é virtude. EU— E fico furioso (faço birra, mesmo) quando vejo coisas/pessoas que vão contra aquilo que eu defendo. ELE— O que importa é que o teu trabalho faça prova do que dizes. Eu sou aberto a todas as perspectivas: desde que não me digas que és filósofo... EU— Deus me livre! Não digo. Fica prometido... Mas e se dissesse? ELE— Arte e Filosofia são coisas diferentes. E se não são, então teremos que meter a Matemática ao barulho. EU— Venha ela... ELE— Há que saber matemática avançada para se estar na vanguarda. EU— De acordo. ELE— E se calhar isso demora mais tempo do que as décadas todas que o Cézanne levou a olhar a montanha Sainte Victoire. Eu, felizmente, como separo Arte e Filosofia, não tenho de me preocupar com a Matemática. EU— O Cézanne é uma excelente arma de arremesso contra aqueles que me acusam de andar há 4 anos a trabalhar na mesmíssima coisa. ELE— E fazes bem, mas sabes que há exemplos na História para defender todos os pontos de vista. A história é muito democrática... EU— Felizmente para uns, infelizmente para outros. ELE— Vou estar atento aos podcasts do MIT. Porque deste ponto de vista, o Media Lab é onde se está a fazer a arte contemporânea. EU— Inteiramente de acordo. ELE— Estás a ver quanta imbecilidade conseguimos nós desmascarar numa só conversa? EU— Eu vou desistir, sabias? Só para chatear os meus amigos... Como fez o Duchamp. ELE— Não. Desistir é feio... EU— A Laurie Anderson é que dizia que os terroristas são os verdadeiros artistas, pois são as únicas pessoas no mundo capazes de mudar as coisas... Não desisto, portanto: dedico-me a matar pessoas feias, "que é uma arte de respeito". ELE— A única "arte de respeito" é a "arte do futuro". Aliás, é a única que existe. EU— Não podia estar mais de acordo. ELE— E o futuro inventa-se. EU— Olha, vamos fazer um coffee break neste nosso debate. Preciso de ir jantar. ELE— E eu preciso de ir fazer as malas. A questão dos negros na arte portuguesa também me interessa, mas fica para depois. You stay cool, Roger! EU— Yes! Até logo...

[Junho 2007]